Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 37: Capítulo 37 Pág. 193 / 258

Por isso, os Antigos, ao observarem o seu olhar doce e expressivo, que a mais suave e bela mulher não poderia suplantar, reparando as suas poses encantadoras e poetizando-as a sua maneira, metamorfosearam os machos em tritões e as fêmeas em sereias.

Nenhum mamífero, excetuando-se o homem, tem matéria cerebral mais rica do que a das focas. Em consequência disso, elas são facilmente educáveis, deixam-se domesticar quase sem trabalho e eu penso, como alguns naturalistas, que elas, convenientemente ensinadas, poderiam prestar grandes serviços como cães de caça marítima.

Aproximamo-nos, a seguir, de alguns elefantes-marinhos.

- Esses animais não são perigosos? - perguntou-me Conselho.

- Não. A não ser que sejam atacados. Mesmo a foca, quando precisa defender o filho, é de um furor terrível.

- Está no seu direito - ponderou o meu criado.

- Penso assim também - apoiei o que ele acabara de dizer.

Depois de ter examinado essa colônia de focas resolvi voltar ao submarino. Eram onze horas. O Capitão Nemo deveria querer vir à terra para observar o sol. Tivemos apenas o tempo suficiente para levar o bote até o barco. O capitão saltou para dentro dele com os instrumentos e voltamos novamente para a terra.

Mas parecia uma fatalidade. Chegou o meio-dia e, como na véspera, o sol não apareceu. Não se podiam fazer as observações. Se no dia seguinte acontecesse a mesma coisa, teríamos de renunciar definitivamente a tomar o ponto. Sem isso não poderíamos afirmar com absoluta certeza se estávamos realmente no Pólo Sul.

Estávamos a 20 de março. No dia seguinte, 21, dia do Equinócio, não contando com a refração, o sol desapareceria no horizonte por seis meses e com o seu desaparecimento começaria a longa noite polar.





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