Nenhum mamífero, excetuando-se o homem, tem matéria cerebral mais rica do que a das focas. Em consequência disso, elas são facilmente educáveis, deixam-se domesticar quase sem trabalho e eu penso, como alguns naturalistas, que elas, convenientemente ensinadas, poderiam prestar grandes serviços como cães de caça marítima.
Aproximamo-nos, a seguir, de alguns elefantes-marinhos.
- Esses animais não são perigosos? - perguntou-me Conselho.
- Não. A não ser que sejam atacados. Mesmo a foca, quando precisa defender o filho, é de um furor terrível.
- Está no seu direito - ponderou o meu criado.
- Penso assim também - apoiei o que ele acabara de dizer.
Depois de ter examinado essa colônia de focas resolvi voltar ao submarino. Eram onze horas. O Capitão Nemo deveria querer vir à terra para observar o sol. Tivemos apenas o tempo suficiente para levar o bote até o barco. O capitão saltou para dentro dele com os instrumentos e voltamos novamente para a terra.
Mas parecia uma fatalidade. Chegou o meio-dia e, como na véspera, o sol não apareceu. Não se podiam fazer as observações. Se no dia seguinte acontecesse a mesma coisa, teríamos de renunciar definitivamente a tomar o ponto. Sem isso não poderíamos afirmar com absoluta certeza se estávamos realmente no Pólo Sul.
Estávamos a 20 de março. No dia seguinte, 21, dia do Equinócio, não contando com a refração, o sol desapareceria no horizonte por seis meses e com o seu desaparecimento começaria a longa noite polar.