Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 43: Capítulo 43 Pág. 235 / 258

Em consequência dessa tempestade, tínhamos sido arrastados para leste e todas as nossas esperanças de uma evasão para a região de Nova Iorque ou de São Lourenço desvaneceram-se. O pobre Ned, desesperado, isolou-se como o Capitão Nemo. Eu e Conselho nunca mais nos separamos. Precisávamos de nos amparar mutuamente. Aos poucos o barco foi pendendo para o nordeste. Durante alguns dias errou ora à superfície ora submerso, muitas vezes perdido no meio das brumas tão temidas, pelos navegadores. Elas são devidas principalmente à fusão dos gelos, que provocam grande umidade na atmosfera.

Quantos navios perdidos nestas paragens, quando tentavam avistar os faróis incertos da costa! Quantos sinistros devidos a esses nevoeiros cerrados! Quantos choques com escolhos, cuja ressaca é abafada pelo barulho do vento! Quantas colisões entre navios, apesar dos faróis de sinalização, apesar dos avisos das suas sirenas e sinos de alarme! Por isso, o fundo desses mares oferecia o aspeto de um campo de batalha onde ainda jaziam todos esses vencidos do oceano; uns velhos e já em ruínas, outros recentes e refletindo os raios do nosso farol nas ferragens e quilhas de cobre. Entre eles, quantos navios completamente perdidos, com as suas tripulações, o seu mundo de emigrantes, naqueles pontos perigosos assinalados nas estatísticas. O Cabo Race, a ilha Saint-Paul, o Estreito de BelleIle, o estuário do São Lourenço! E desde há poucos anos, quantas vitimas fornecidas aos fúnebres anais pelas linhas da Royal-Mail, da Inmann, de Montreal: o “Solway”, o “Isis”, o “Paramatta”, o “Hungarian”, o “Canadian”, o “Anglo-Saxon”, o “Humboldt”, o “United States”, todos afundados a pique; o “Artic”, o “Lyonnais”, afundados por abalroamentos; e o “President”, o “Pacific”, o “City-of-Glasgow” desaparecidos por causas desconhecidas, sombrios destroços no meio dos quais o “Nautilus” navegava como se passasse os mortos em revista.





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