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Capítulo 117: O 5 de Outubro

Página 1072
A minha irmã desataria a chorar e desmaiaria; vê-la-ia sofrer e já sofri bastante.

Emmanuel arrancar-me-ia a arma das mãos e encheria a casa com os seus gritos. O senhor, conde, de quem tenho a palavra, o senhor, que é mais do que um homem, o senhor, a quem chamaria um deus se não fosse mortal, o senhor conduzir-me-á suave e ternamente até às portas da morte, não é verdade?

- Meu amigo - disse o conde -, ainda me resta uma dúvida: teria tão pouca coragem que fosse capaz de recorrer ao orgulho para exibir a sua dor?

- Não, veja, sou sincero - respondeu Morrel, estendendo a mão ao conde -, e o meu pulso não bate nem mais depressa nem mais devagar do que de costume. Não, sinto-me no fim do caminho; não, não irei mais longe. Disse-me que esperasse e tivesse esperança; sabe o que fez, pobre sábio que é? Esperei um mês, isto é, sofri um mês! Tive esperança (o homem é uma pobre e miserável criatura), mas esperança em quê? Não sei, em algo desconhecido, absurdo, insensato! Num milagre... mas em qual? Só Deus o pode dizer, ele que juntou à nossa razão essa loucura chamada esperança. Sim, esperei; sim, tive esperança, conde, e desde que falamos, há um quarto de hora, o senhor, sem o saber, torturou-me, dilacerou-me cem vezes o coração, porque cada uma das suas palavras provou-me que já não existe esperança para mim. Ó conde, como repousarei doce e voluptuosamente na morte!

Morrel pronunciou as últimas palavras com uma explosão de energia que fez estremecer o conde.

- Meu amigo - continuou Morrel, vendo que o conde se calava -, indicou-me o dia 5 de Outubro como termo do prazo que me pediu... Meu amigo, é hoje o dia 5 de Outubro...

Morrel puxou do relógio.

- São nove horas, ainda tenho três horas de vida.

- Seja - respondeu Monte-Cristo. - Venha.

Morrel seguiu maquinalmente o conde. Estavam já na gruta mas Maximilien ainda não dera por isso.

Encontrou tapetes debaixo dos pés; uma porta abriu-se, sentiu-se envolto em perfumes e uma luz viva feriu-lhe os olhos.

Morrel parou, hesitou em avançar; desconfiava das delícias excitantes que o rodeavam.

Monte-Cristo puxou-o suavemente.

- Não será melhor empregarmos as três horas que nos restam como os antigos romanos, que, condenados por Nero, seu imperador e seu herdeiro, se sentavam à mesa coroados de flores e aspiravam a morte com o perfume dos heliotrópios e das rosas?

Morrel sorriu.

- Como queira - disse. - A morte é sempre a morte, isto é, o esquecimento; isto é, o repouso; isto é, a ausência da vida e por conseguinte da dor.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 1072

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069