Danglars e Caderousse desempenharam-se da sua missão de embaixadores. Em seguida, depois de trocarem um aperto de mão muito enérgico e amistoso com Edmond, retiraram-se, Danglars para tomar lugar ao pé de Fernand e Caderousse para se colocar ao lado do Tio Dantès, centro da atenção geral.
O velhote envergava uma bela casaca de tafetá canelado, adornada com grandes botões de aço facetados. As pernas, magras mas nervosas, ostentavam magníficas meias de algodão mosqueado, que cheiravam à légua a contrabando inglês. Do chapéu de três bicos pendia-lhe um laço de fitas brancas e azuis. Finalmente, apoiava-se numa bengala torcida e retorcida em cima com o pé dum antigo. Dir-se-ia um desses janotas que se pavoneavam em 1796 nos jardins pouco antes reabertos do Luxemburgo e das Tulherias.
Como já dissemos, Caderousse esgueirara-se para junto dele. Caderousse a quem a esperança de uma boa refeição acabara de reconciliar com os Dantès; Caderousse a quem restava na memória uma vaga lembrança do que se passara na véspera, tal como ao acordarmos de manhã e encontramos no espírito da sombra do sonho que tivemos durante o sono.
Aproximando-se de Fernand, Danglars deitara ao amante desdenhado um olhar profundo. Fernand que caminhava atrás do futuro casal completamente esquecido por Mercédès, que no egoísmo juvenil e encantador do amor só tinha olhos para o seu Edmond; Fernand que estava pálido, mas que de vez em quando corava em acessos súbitos, que desapareciam e davam lugar a uma palidez crescente.
A intervalos olhava para os lados de Marselha e então apoderava-se-lhe dos membros uma tremura nervosa e involuntária.
Fernand parecia esperar ou pelo menos prever qualquer grande acontecimento.
Dantès vestia com simplicidade. Como pertencia à marinha mercante, o seu traje era meio militar, meio civil e dava-lhe um aspeto, para mais realçado pela alegria e pela beleza da noiva, deveras atraente.
Mercédès estava linda, parecia uma dessas gregas de Chipre ou de Keos, de olhos de ébano e lábios de coral. Caminhava com esse passo livre e franco com que caminham as Arlesianas e as Andaluzas. Uma rapariga citadina talvez procurasse esconder a sua alegria debaixo de um véu ou pelo menos do veludo das pálpebras, mas Mercédès sorria e olhava todos os que a rodeavam e o seu sorriso e o seu olhar diziam tão francamente quanto o poderiam dizer estas palavras: «Se são meus amigos, regozijem-se comigo, porque na verdade sou feliz!»