- Conheço - respondeu Albert. - Fui-lhe apresentado em Roma pelo Franz.
- Quer prestar-me em Paris o mesmo favor que Franz lhe prestou em Roma?
- Com muito prazer.
- Caluda! - protestou o público.
Os dois rapazes continuaram a conversar sem parecerem preocupar-se absolutamente nada com o desejo que a plateia manifestava de querer ouvir a música.
- Vi-a nas corridas do Campo de Marte - informou Château-Renaud.
- Hoje?
- Sim.
- Ah, de facto havia corridas. Apostou?
- Apostei. Oh, uma miséria! Cinquenta luíses.
- E quem ganhou?
- O Nautilus. Apostei nele.
- Mas não havia três corridas?
- Havia. E também havia o prémio do Jockey-Club, uma taça de ouro. Até aconteceu uma coisa deveras estranha.
- Qual?
- Caluda! - tornou a gritar o público.
- Qual? - repetiu Albert
- Foi um cavalo e um jóquei completamente desconhecidos que ganharam essa corrida.
- Como?...
- Palavra! Ninguém prestara atenção a um cavalo inscrito sob o nome de Vampa, nem a um jóquei inscrito sob o nome de Job, quando se viu avançar a toda a velocidade um admirável alazão e um jóquei do tamanho de um palmo. Tiveram de lhe meter vinte libras de chumbo nas algibeiras, o que não o impediu de chegar ao fim com três comprimentos de avanço sobre o Ariel e o Barbaro, que corriam com ele.
- E ninguém descobriu a quem pertenciam o cavalo e o jóquei?
- Ninguém.
- Disse que o cavalo estava inscrito sob o nome de...
- Vampa.
- Então estou mais adiantado do que você - disse Albert. – Sei a quem pertence.
- Silêncio! - gritou pela terceira vez a plateia.
Desta vez o protesto era tão firme que os dois jovens deram finalmente por isso e verificaram que era a eles que o público se dirigia. Viraram-se um instante, procurando na multidão um homem que tomasse a responsabilidade do que consideravam uma impertinência, mas ninguém disse nada e eles voltaram-se para o palco.
Neste momento o camarote do ministro abriu-se e a Sr.ª Danglars, a filha e Lucien Debray ocuparam os seus lugares.
- Ah, ah! - murmurou Château-Renaud. - Estão ali umas pessoas suas conhecidas, visconde. Que diabo está a ver do lado direito? Procuram-no.
Albert virou-se e os seus olhos encontraram efectivamente os da baronesa Danglars, que o cumprimentou com o leque. Quanto a Mademoiselle Eugénie, foi a custo que os seus grandes olhos negros se dignaram a descer até à orquestra.