Mas Monte-Cristo olhou-o com um sorriso ao mesmo tempo tão melancólico e meigo que Maximilien sentiu as lágrimas virem-lhe aos olhos.
- Posso muito, meu amigo - respondeu o conde. - Vá, tenho necessidade de estar só.
Morrel, subjugado pelo prodigioso ascendente que Monte-Cristo exercia sobre tudo o que o rodeava, nem sequer tentou subtrair-se-lhe. Apertou a mão ao conde e saiu.
Somente à porta se deteve para esperar Baptistin, que acabava de ver aparecer à esquina da Rua Matignon e que regressava a correr.
Entretanto, Villefort e Avrigny tinham-se apressado. Quando chegaram, Valentine continuava desmaiada e o médico observara a doente com o cuidado que as circunstâncias exigiam e com a profundidade imposta pelo seu conhecimento do segredo da doença.
Suspenso do olhar e dos lábios do médico, Villefort aguardava do resultado do exame. Noirtier, mais pálido do que a jovem e mais ansioso por uma solução do que o próprio Villefort, esperava igualmente e tudo nele era inteligência e sensibilidade.
Por fim, Avrigny disse lentamente:
- Ainda vive.
- Ainda! - exclamou Villefort. - Oh, doutor, que palavra terrível acaba de pronunciar!
- Sim - disse o médico -, e repito a minha frase: ainda vive, o que me surpreende muito.
- Mas salva-se? - perguntou o pai.
- Salva, visto ainda estar viva.
Neste momento, o olhar de Avrigny encontrou o de Noirtier, no qual brilhava uma alegria tão extraordinária e uma inteligência de tal modo rica e fecunda que o médico ficou impressionado.
Deixou a jovem voltar a cair na poltrona (Valentine tinha os lábios tão pálidos que mal se distinguiam no rosto) e ficou imóvel a olhar para Noirtier, para quem qualquer gesto do médico se revestia de excepcional importância.
- Senhor - disse então Avrigny a Villefort -, chame a criada de quarto de Mademoiselle Valentine, por favor.
Villefort largou a cabeça da filha, que amparava, e correu ele próprio a chamar a criada.
Assim que Villefort fechou a porta, Avrigny aproximou-se de Noirtier.
- Tem alguma coisa a dizer-me? - perguntou.
O velho piscou expressivamente os olhos. Era, lembramos, o único sinal afirmativo que tinha à sua disposição.
- Só a mim?
- Sim - respondeu Noirtier.
- Bom, ficarei consigo.
Neste momento, Villefort regressou seguido da criada de quarto. Atrás desta vinha a Sr.ª de Villefort.
- Mas que aconteceu a esta querida filha?! - exclamou. - Quando me deixou queixava-se de estar indisposta, mas nunca imaginei que o caso fosse tão grave.
E a jovem senhora, com as lágrimas nos olhos e todas as mostras de afeição de uma verdadeira mãe, aproximou-se de Valentine e pegou-lhe na mão.