Vejamos, sabes porventura de que é capaz o conde de Monte-Cristo? Sabes que governa muitas forças terrestres? Sabes que possui suficiente fé em Deus para obter milagres. Daquele que disse que com a fé o homem podia mover montanhas? Pois bem, esse milagre em que tenho esperança espera-o ou então...
- Ou então... - repetiu Morrel.
- Ou então acautela-te, Morrel, chamar-te-ei ingrato.
- Tenha piedade de mim, conde.
- Tenho tanta piedade de ti, Maximilien, ouves, tanta piedade que, se não te curar dentro de um mês, dia por dia, hora por hora... fixa bem as minhas palavras, Morrel, te colocarei eu próprio diante dessas pistolas carregadas e de uma taça do mais seguro veneno italiano, de um veneno mais seguro e mais rápido, acredita, do que aquele que matou Valentine.
- Promete-me?
- Prometo, porque sou um homem; porque também, como te disse, quis morrer, e até muitas vezes, depois de a desventura ter deixado de me perseguir, sonhei com as delícias do sono eterno.
- Oh, é verdade que me promete isso, conde?! - gritou Maximilien, inebriado.
- Não to prometo, juro-to - redarguiu Monte-Cristo, estendendo a mão.
- Dentro de um mês, pela sua honra, se não estiver confortado, deixar-me-á a liberdade de dispor da minha vida, e seja o que for que faça não me chamará ingrato?
- Dentro de um mês, dia por dia, Maximilien; dentro de um mês, hora por hora, e a data é sagrada, Maximilien. Não sei se pensaste nisto, mas estamos hoje a 5 de Setembro. Faz hoje dez anos que salvei o teu pai, que queria morrer.
Morrel pegou nas mãos do conde e beijou-as. O conde não se opôs, como se achasse que essa adoração lhe era devida.
- Dentro de um mês - continuou Monte-Cristo - terás na mesa diante da qual estaremos sentados um e outro boas armas e uma morte suave; mas, em contrapartida, prometes-me esperar até lá e viver?
- Oh, também eu lho juro! - exclamou Morrel.
Monte-Cristo atraiu o jovem ao coração e abraçou-o durante muito tempo.
- E agora - disse-lhe -, a partir de hoje vais viver comigo.
Ocuparás os aposentos de Haydée e assim ao menos a minha filha será substituída pelo meu filho.
- Haydée! - exclamou Morrel. - Que aconteceu a Haydée?
- Partiu esta noite.
- Para o deixar?
- Para me esperar... Prepara-te, pois, para ires ter comigo à Rua dos Campos Elísios e faz-me sair daqui sem que me vejam.
Maximilien, baixou a cabeça e obedeceu, como uma criança ou como um apóstolo.