O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 22: CAPÍTULO X Pág. 127 / 245

O ar estava sereno, acendi um fosforo, e àquela luz trémula, entrei na sombra, para descobrir o vulto, entre as ramagens. Mas a pessoa, vendo-se seguida, e sentindo a impossibilidade de se esquivar rapidamente, retrocedeu, com uma naturalidade visivelmente artificial, e proferiu o meu nome. Era Carmen.

- Que faz aqui? disse eu.

- Mato-me. Não lhe disse que sempre que suava de noite, me erguia e vinha apanhar o orvalho?

Mas ela estava completamente vestida de seda preta, e tinha sobre os ombros uma larga capa escura, de forma árabe, com grande capuz!

- Ah! minha cara, disse eu, mata-se mas é de amores. A esta hora, com essa toilete, neste jardim, com este aroma de laranjeiras!… Que história me vem contar de orvalhos e de suor?

- Digo-lhe a verdade. Imagina que eu não preferiria aqui nesta sombra encontrar alguém?…

- E D. Nicazio? Peça a D. Nicazio que lhe faça a corte. Que lhe dê uma serenada, que suba por uma escada de corda, que a seduza neste jardim…

Enquanto eu falava, davam horas na Igreja de S. João, e Carmen mostrava uma agitação impaciente. A todo o momento olhava para a porta do jardim, torcendo freneticamente uma luva descalçada.

Eu compreendi que ela esperava alguém. Alguém, isto é, el querido, el precioso, el saleroso, el niño de toda a legitima andaluza. Afastei-me discretamente, como um confidente, e no momento que pisava a rua areada que levava ao pavilhão, senti a porta do jardim ranger com uma ternura plangente.

- É ele, pensei eu. É o niño. Pobre Carmen! Bebe vinagre, apanha os orvalhos por causa de Ritmel, e mal chega a noite, não pode ser superior a vir receber debaixo das laranjeiras algum cabeleireiro francês com voz de tenor, ou algum tenor maltês com bigodes de cabeleireiro.

Subi





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