O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 28: QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I Pág. 156 / 245

A verdade é que te amo! que te amo, e que te amarei! Outra imagem, incoercível, vaporosa, vaga, perpassou por mim, mas esvaiu-se como a sombra de um sonho doentio, varada sempre pelo teu olhar cândido que através dela se fixava e se embebia constantemente no meu.

Uma noite, há dois meses, recolhendo-me por volta das nove horas a minha casa, que fica situada num dos bairros excêntricos de Lisboa, encontrei parada uma carruagem de praça, cujo cocheiro altercava grosseiramente com uma senhora, que estava em pé junto da carruagem, vestida de preto e coberta com um grande véu de renda. Esta senhora trocou algumas palavras com outra mais idosa que a acompanhava e disse ao cocheiro com uma voz singularmente fina, tremula, delicada, musical, como nenhuma até então ouvida por mim:

- Onde quer que lhe mande pagar?… Não trago mais dinheiro.

- Importa-me pouco isso, respondeu o cocheiro. Quem não tem dinheiro anda a pé. Já lhe disse à senhora quanto é que me deve pela tabela. Se não paga o resto, chamo um polícia. Se não traz dinheiro, dê-me um penhor.

Ela então bateu impacientemente com o pé no chão, ergueu a parte do véu que lhe cobria o rosto, e começou a descalçar convulsamente uma luva. Supus que iria tirar um anel. O cocheiro apressou-se a passar as guias pela grade da almofada e apeou. Tinha-me no entanto aproximado, e no momento em que ele dava o primeiro passo, impelido por uma forte comoção nervosa, estendi-lhe com as costas da mão uma bofetada que o fez cambalear e cair de encontro à parelha. E dando-lhe em seguida uma libra, que trazia no bolso:

- Aí tem pela bofetada; contente-se com o que lhe deram pela corrida.

Diria que alguém por traz de mim sugerira estas palavras românticas, a tal ponto ainda hoje pasmo de





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