Vejo-o daqui a sorrir… Não se admire de me ver falar assim. Lembra-se daquelas conversas tão íntimas e tão sérias na rua de…? Lembra-se do terraço de Clarence-Hotel, em Malta, quando a lua silenciosa cobria o mar? Não se recorda das minhas ideias então e daquelas imaginações que eu denominava gloriosamente os meus sistemas? Não se lembra que me chamava então filosofo loiro? O filósofo sentiu, chorou, sofreu, teve por isso o melhor estudo. Que maior ensino que as lágrimas? A dor é uma verdade eterna, que fica, enquanto as teorias passam. Não imagina o que tenho aprendido da vida desde que sou desgraçada! Não imagina quantas ideias retas e precisas saem das incoerências do choro!
Por isso hoje não creio em certas fatalidades, com que as mulheres pretendem esquivar-se à responsabilidade. Não creio no que se chama teatralmente as fatalidades da paixão. A vontade é tudo; é um tão grande princípio vital como o sol. Contra ela as fatalidades, as febres, o ideal, quebram-se como bolas de sabão.
Respondem-me chorando: a fatalidade! Mas, meu Deus! tomemos um exemplo, - a aventura trivial, a comum, o que se poderia chamar a aventura tipo, o que se vê todos os dias, em qualquer rua, no primeiro numero par ou impar… a aventura que nós acotovelamos no passeio, que toma connosco neve na confeitaria Italiana, e que se enterra ao pé de nós no Alto de S. João.
A cena é simples, de três personagens. Eu, por exemplo, sou a mulher.