O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 36: CAPÍTULO III Pág. 200 / 245

Experimentei eu também os sobressaltos da paixão - e nunca vi, nunca soube que estas imaginações, que estas atrações nascessem de uma verdade da natureza, da logica das circunstâncias, da irreparável ação do coração. Vi sempre que saíam de um pequeno mundo efémero, romântico, literário, fictício, que habita no cérebro de todas as mulheres.

Vejo-o daqui a sorrir… Não se admire de me ver falar assim. Lembra-se daquelas conversas tão íntimas e tão sérias na rua de…? Lembra-se do terraço de Clarence-Hotel, em Malta, quando a lua silenciosa cobria o mar? Não se recorda das minhas ideias então e daquelas imaginações que eu denominava gloriosamente os meus sistemas? Não se lembra que me chamava então filosofo loiro? O filósofo sentiu, chorou, sofreu, teve por isso o melhor estudo. Que maior ensino que as lágrimas? A dor é uma verdade eterna, que fica, enquanto as teorias passam. Não imagina o que tenho aprendido da vida desde que sou desgraçada! Não imagina quantas ideias retas e precisas saem das incoerências do choro!

Por isso hoje não creio em certas fatalidades, com que as mulheres pretendem esquivar-se à responsabilidade. Não creio no que se chama teatralmente as fatalidades da paixão. A vontade é tudo; é um tão grande princípio vital como o sol. Contra ela as fatalidades, as febres, o ideal, quebram-se como bolas de sabão.

Respondem-me chorando: a fatalidade! Mas, meu Deus! tomemos um exemplo, - a aventura trivial, a comum, o que se poderia chamar a aventura tipo, o que se vê todos os dias, em qualquer rua, no primeiro numero par ou impar… a aventura que nós acotovelamos no passeio, que toma connosco neve na confeitaria Italiana, e que se enterra ao pé de nós no Alto de S. João.

A cena é simples, de três personagens. Eu, por exemplo, sou a mulher.





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