Calafrio - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 100 / 164

— Compreendo, compreendo. — Havíamos chegado frente à igreja e várias pessoas, incluindo alguns dos moradores de Bly, decidiram esperar por nós junto à porta. Estuguei o passo e obriguei-o a fazer o mesmo. Queria entrar no templo antes que a conversa se adiantasse demasiado. Não parava de dizer a mim mesma que, uma vez lá dentro, Miles teria de permanecer em silêncio durante mais de uma hora, e dei por mim a suspirar pela penumbra que reinava no interior do edifício e pelo consolo quase espiritual do genuflexório. Sentia-me como se estivesse a participar numa espécie de corrida com a confusão em que o meu adversário queria lançar-me, mas eu já pensava que a tinha ganho quando, ainda antes de entrarmos no átrio, ele lançou o desafio:

— Quero dar-me com os meus iguais!

Aquilo fez-me inclinar um pouco a cabeça.

— Existem muito poucas pessoas iguais a si, Miles! — ri eu. — Excepto a pequena Flora, dato!

— Acha mesmo que eu sou como aquele bebé?

Essas palavras apanharam-me de surpresa.

—Então não adora a nossa doce Flora?

— Se não adorasse!... E a senhora também não... Se eu não a adorasse!... — Falava como se fosse um animal que, ao pressentir o perigo, se prepara para saltar, mas o seu raciocínio ficara de tal forma incompleto que outra pausa, que ele mesmo impôs com uma leve pressão no meu braço depois de termos entrado no portão, se tornava inevitável. Mrs. Grose e Flora haviam já entrado na igreja e, como todos os outros lhes tinham seguido o exemplo, vimo-nos sós no meio de todas aquelas velhas campas. Parámos frente a um túmulo baixo e oblongo, semelhante a uma mesa.





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