Calafrio - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 3 / 164

— Então escreveu a história? Anotou o ocorrido?

— Apenas a impressão. Guardei-a aqui. — E deu uma palmadinha no coração. — Fui incapaz de esquecer fosse o que fosse. — Nesse caso, o seu manuscrito...

— Está escrito numa bela caligrafia, apesar de a tinta já estar a desaparecer. — Virou-se de novo para o lume. — De uma mulher. Faleceu há vinte anos. Enviou-me as páginas em causa antes de morrer. — Agora todos escutavam com a máxima atenção e, como era evidente, houve quem tratasse de tirar a mais óbvia das conclusões. Mas, se Douglas o aceitou sem esboçar um sorriso, a verdade é que também não parecia irritado. — Ela era uma pessoa verdadeiramente encantadora, mas era dez anos mais velha que em Era preceptora da minha irmã — afirmou com suavidade.

— Foi a pessoa mais agradável que encontrei na sua posição, mas podia um sido valorosa em qualquer outra. Já passou muito tempo, e este episódio ocorreu muito antes dessa época. Eu estava a estudar em Trinity e encontrei-a lá em casa no meu segundo Verão. Nesse ano passei ai grande parte do meu temo (era uma casa bonita) e, nas suas horas de folga, demos alguns passeias no jardim e conversarmos. Nessas conversas ela revelou-se incrivelmente inteligente e simpática. Oh, sim, escusam de sorrir: eu gostava imenso dela e, até hoje, sinto-me feliz por pensar que ela também gastava de mim. Se não gostasse, nunca me teria contado. Nunca o contara a ninguém. Não que mo tivesse dito, mas eu sabia que ela nunca o contado. Tinha a certeza; conseguia vê-lo. Quando ouvirem a história, por certo compreenderão porquê.

— Porque a experiência foi assim tão assustadora?

Continuou a fitar-me.

— Vai poder avaliá-lo facilmente. — E repetiu: — Você fá-lo-á.

Fitei-o do mesmo modo.

— Compreendo. Ela estava apaixonada.

Douglas soltou a sua primeira gargalhada.

— Não há dúvida de que é perspicaz. Sim, ela estava apaixonada. Melhor, estivera apaixonada. Acabou por confessá-lo. Ela não podia contar a sua história sem o confessar. Compreendi-o de imediato e ela percebeu que eu tinha compreendido, mas nenhum de nós falou no assunto. Ainda me lembro do local e da altura exactos: numa das extremidades do relvado, à sombra das grandes faias, numa tarde de Verão muito quente.





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