— Sou a única pessoa que já ouviu esta história. É demasiado terrível. — Esta frase já fora, naturalmente, repetida por várias vozes com o intuito de conferir o máximo de valor à sua história, e, com a maior das artes, o nosso amigo preparava o seu triunfo ao pousar os olhos em nós e prosseguir: — É qualquer coisa de único. Não conheço nada que se lhe possa
comparar.
— Terror em estado puro? — lembrei-me de inquirir.
Ele parecia dizer que a questão não era assim tão simples; e que lhe era difícil encontrar as palavras exactas para a qualificar. Douglas passou a mão pelos olhos e esboçou um sorriso que se assemelhou a uma careta.
— É pavoroso... verdadeiramente pavoroso!
— Oh, mas que delícia — exclamou uma das senhoras presentes.
Ele ignorou-a; olhou-me como se em vez de mim visse aquilo de que falava.
— A verdade é que estamos perante algo invulgarmente feio, horrível e doloroso.
— Nesse caso — disse eu —, sente-se e conte-nos tudo.
Douglas virou-se para as chamas, deu um pontapé num taro e fitou-o por breves instantes. Por fim, enquanto voltava a encarar-nos, afirmou:
— Não posso começar. Preciso de mandar alguém à cidade. — Seguiu-se um gemido unânime e reprovados, depois do quando no seu estilo preocupado, ele explicou: — A história está escrita. Encontra-se fechada à chave. . . há anos que dali não sai. Posso escrever ao meu mordomo e mandar-lhe a chave. Depois ele pode enviar o embrulho, assim que o encontrar. — Pareceu-me que se dirigia directamente a mim; melhor ainda, as suas palavras soavam como um pedido de ajuda, não uma hesitação. Ele quebrara uma camada de gelo, algo que se formara ao longo de muitos Invernos^i Teria as suas razões para um silêncio tão longo. Os outros mostraram-se ressentidos com o adiamento, mas eu senti-me encantado com os seus escrúpulos. Convenci-o a fazer seguir a sua carta no primeiro correio da manhã e a acordar em contar-nos a história naquele instante; depois perguntei-lhe se a experiência em causa fora sua. A sua resposta a isto foi pronta:
— Oh, não, graças a Deus!