Calafrio - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 36 / 164

O homem tinha o rosto quase colado ao vidro, mas, por muito estranho que pudesse parecer, o facto de agora poder examina-lo melhor apenas servia para me fazer compreender até que ponto fora intensa a visão anterior. Ele apenas ali permaneceu durante alguns segundos — o tempo suficiente para me convencer de que fora igualmente vista e reconhecida. Todavia, fiquei com a sensação de que estivera a olhá-lo durante anos a fio e que sempre o conhecera. Ainda assim, desta feita aconteceu algo que não sucedera antes: os olhos que, do outro lado do vidro, atravessaram a sala e se fixaram nos meus eram tão intensos e duros como anteriormente, mas o certo é que se desviaram do meu rosto durante breves instantes e vi-os fixarem-se numa série de outras coisas. Naquele mesmo instante, uma nova certeza apoderou-se de mim com a força de um choque: aquele homem não estava ali por minha causa, mas porque queria ver outra pessoa.

Esta súbita revelação — já que de uma revelação se tratava no meio de tanto terror — produziu em mim o mais estranho dos efeitos, e senti o corpo percorrido por uma vibração onde dever se misturava com coragem. Claro que emprego aqui a palavra coragem porque consegui ultrapassar todas as dúvidas que me tinham assaltado. Precipitei-me porta fora, corri para a da rua, abri-a e, quase a correr, dobrei uma esquina e surgi no ponto exacto onde deveria encontrar o intruso. Porém, não havia ali vivalma — o meu visitante desaparecera. O facto deixou-me de tal forma aliviada que me imobilizei bruscamente e quase cai. Ainda assim, examinei o cenário com atenção, dei-lhe tempo para reaparecer. Estou a falar em tempo, mas, ao certo, quantos minutos foram? Ainda hoje sou incapaz de medir o tempo com clareza quando o que está em causa é uma situação destas.





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