Calafrio - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 59 / 164

Aquilo fez que nos deixássemos ficar a olhar uma para a outra, em silêncio, até ao momento em que descobri que o facto de ver as coisas com tanta clareza podia ser-me de grande utilidade.

— Agradeço — acabei por dizer — que me tenha poupado até agora os pormenores desta história. De qualquer forma, creio estar na hora de pôr-me ao corrente de tudo. — Embora ela parecesse concordar comigo, permaneceu em silêncio, o que me obrigou a insistir.—Tenho de saber toda a verdade. De que foi que ela morreu? Por favor, sei perfeitamente que havia algo entre eles.

— Havia tudo entre eles.

— Ah, e com um olhar tão perverso!

— Apesar da diferença. . . ?

—Oh, sim, apesar da diferença de estatuto e de condição social— acabou a mulher por dizer, bastante triste.—Ela era uma senhora.

Recordei a imagem que vira junto ao lago.

Sim... ela era uma senhora.

— E ele estava tão abaixo dela — disse Mrs. Grose.

Senti que, frente àquela mulher, não era necessário tecer grandes considerações a respeito do lugar de um qualquer criado na hierarquia social. A verdade é que a minha companheira se mostrava incapaz de aceitar que a minha antecessora tivesse sido capaz de descer tão baixo. Só havia uma forma de lidar com isto, e foi exactamente o que fiz, sobretudo depois de rever a imagem do antigo criado pessoal do nosso patrão: audaz, seguro de si, vicioso, depravado.

— O sujeito era um miserável





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