— Está a falar de um sentimento de desaprovação?
— Oh, não, de maneira nenhuma! De algo bem pior.
—Pior que desaprovação? — Era como se lhe tivessem tirado o tapete debaixo dos pés.
—Era um olhar de tal forma determinado!... Mal consigo descrevê-lo. Era como se nele houvesse uma espécie de fúria intencional.
Ela empalideceu.
— Intencional?
— Sim, como se fosse sua intenção apoderar-se dela. — Mrs. Grose, os olhos ainda fixos nos meus, estremeceu e foi colocar-se junto à janela, e depois aproveitei para completar o meu raciocínio.—É isto que a Flora sabe.
Ao fim de alguns instantes, a mulher deu meia volta.
— A pessoa em causa estava vestida de preto?
— Sim, estava de luto. As roupas eram bastante pobres, algo gastas. Ela era muito bonita. — Reconheço agora que, aos poucos, pincelada atrás de pincelada, traçara o retrato daquela que me antecedera, já que Mrs. Grose parecia bastante impressionada. — Oh, sim, bonita, muito bonita — insisti. — Linda! Mas de uma beleza infame.
Devagar, a minha amiga aproximou-se de mim.
— Miss Jessel era uma pessoa infame. — Voltou a pegar-me na mão e a apertá-la com força, como se com isto quisesse transmitir-me um pouco de força, já que o mais provável era que semelhante revelação me deixasse alarmada. — Eram ambos criaturas infames — acabou ela por dizer.