Calafrio - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 76 / 164

— Posso perguntar-lhe que foi que a levou a correr a cortina para que eu pensasse que ainda estava deitada?

Flora fez um ar pensativo e, ao fim de alguns instantes, o rosto iluminou-se-lhe com um sorriso divino:

— Porque não queria assustá-la!

— Mas não me disse que julgava que eu tinha saldo...?

Ela recusava-se a deixar-se apanhar. Fixou os olhos na chama da vela como se lhe tivesse feito uma qualquer pergunta irrelevante ou impessoal, como se sabia quantos eram nove vezes nove.

— Ora — acabou ela por retorquir —, mas a senhora havia de voltar!

E foi o que acabou por acontecer. — Passado algum tempo, depois de a ter feito subir outra vez para a cama e de ter segurado a sua mão durante algum tempo, acabei por reconhecer que regressara ao quarto em boa hora.

O leitor está agora em condições de imaginar o que foram as minhas noites a partir daquele instante. Acordava sobressaltada e sentava-me na cama sem saber onde estava. Quando sentia que a minha companheira estava profundamente adormecida, esgueirava-me furtivamente pela porta e, sem fazer barulho, percorria o corredor de uma ponta à outra. Cheguei mesmo ao ponto de me aventurar até ao lance de escada onde vira o fantasma de Quint pela última vez. Contudo, nunca mais voltei a vê-lo naquele sitio, e até posso já dizer que nunca mais voltei a vê-lo naquela casa. Por outro lado, na escadaria, houve uma altura em que deixei escapar uma aventura diferente.





Os capítulos deste livro