Calafrio - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 78 / 164

Oculta, protegida, absorta, apoiava-se no parapeito que abria para o exterior e mostrava-se a quem quer que estivesse do lado de fora. A lua cheia parecia querer ajudá-la, o que contribuiu para a minha tomada de decisão. Flora estava frente a frente com a aparição que nos visitara quando passeávamos junto ao lago, podendo agora comunicar com ela, ao contrario do que então sucedera. Aquilo que me competia fazer era sair para o corredor sem a perturbar e procurar uma outra janela virada para o mesmo ponto. Alcancei a porta sem que ela me ouvisse, abri-a, sal e fiquei à espera de escutar algum ruído anormal. Patada no corredor, não tirava os olhos da porta do quarto de Miles, que se situava a cerca de dez passas de distancia e que, sem que conseguisse explicar bem porquê, despertou em mim aquele estranho impulso a que já apelidei de «a minha tentação». E se eu avançasse e me dirigisse à janela do quarto dele? E se, mesmo correndo o risco de me ver obrigada a revelar ao garoto quais os motivos que me levavam a agir assim, acabasse de uma vez por todas com aquele mistério que ameaçava levar-me à loucura?

Ainda dei alguns passas em frente, mas acabei por parar frente à porta, optando antes por pôr-me à escuta. Tentei imaginar o que se estaria a passar lá dentro. E se a cama dele também estivesse vazia e o rapazinho se encontrasse igualmente à janela? Ao fim de um minuto em que o silêncio imperou, descobri que perdera a motivação. Miles estava sossegado, talvez estivesse inocente. O risco era enorme. Dei meia volta. Lá fora, no exterior, havia uma figura à espera de ser vista — uma visita para Flora. Contudo, o rapaz nada tinha a ver com o caso. Voltei a hesitar, se bem que desta feita por motivos diferentes e apenas durante alguns segundos; depois tomei uma decisão. Eram inúmeros os quartos vazios existentes em Bly, logo, o que realmente interessava era escolher o mais indicado. E o mais indicado parecia-me ser o do andar de baixo, que ficava mesmo acima do jardim, naquele sólido canto da casa de que já falei como a velha torre.