Calafrio - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 82 / 164

Durante todo aquele tempo, nenhum de nós articulou uma sã palavra, e eu perguntei-me ansiosamente se não estaria aquela cabecinha à procura de uma explicação plausível e não demasiado grotesca. Esta era, certamente, uma dura prova à sua capacidade inventiva, e, ao imaginar o seu embaraço, deixei-me dominar por uma curiosa sensação de triunfo. Ele estava sem saída. Não mais podia fingir inocência; assim, como se sairia da situação? Foi então que, quase no mesmo instante, me vi assaltada por uma dúvida, esta bastante mais inquietante: de que forma iria eu sair daquele impasse? Tinha, finalmente, de enfrentar todos os riscos inerentes aos meus actos e ao facto de saber o que sabia. Assim, entramos naquele quarto cuja cama não fora desfeita e cuja janela não cerrada para o luar deixava o aposento tão luminoso que não havia necessidade de acender um fósforo. Então, subitamente esgotada, deixei-me cair na beira do leito, certa de que ele sabia que me tinha «apanhado». Com toda a sua inteligência, aquele rapaz podia continuar o fazer o que bem entendesse, enquanto eu insistisse em submeter-me àqueles dois educadores que eram servidores da superstição e do medo. De facto, Miles «apanhara-me», e Só muito a custo poderia escapar-lhe, pois, quem seria capaz de me absolver, quem me salvaria da forca, se eu fora a primeira a introduzir um elemento de tal forma pavoroso na nossa perfeita relação? Não, não, era inútil tentar explicar a Mrs. Grose, da mesma forma que continua a ser inútil tentá-lo agora, a forma como, durante a nossa breve conversa nocturna, 0 rapaz quase me fizera sufocar de admiração. Claro que procurei agir com bondade e clemência, e creio que nunca antes lhe pousara as mãos nos ombros com uma ternura tão grande como aquela que, apoiada na cama onde ele devia estar a dormir, lhe demonstrei então. Ainda assim, não me restava outra alternativa para além de o pressionar.





Os capítulos deste livro