Calafrio - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 87 / 164

Ao ouvir isto, Mrs. Grose examinou-os atentamente.

— Mas para quê?

— Para se aproveitarem de todo o mal que, naqueles dias pavorosos, lhes incutiram. Para continuarem a aproveitar-se desse mal, para não darem por perdido o trabalho que tiveram. É isso que faz que estes demónios não desapareçam.

— Valha-me Deus! — exclamou a minha amiga, boquiaberta A sua expressão era singela, mas revelava que, por fim, a mulher aceitava a minha imagem do que, nos dias maus — pois já se tinham vivido, naquela casa, dias bem piores que aqueles que estávamos a atravessar — ali ocorrera. Pensei que a única coisa capaz de justificar semelhante atitude se prendia com a sua experiência no que respeitava ao grau de perversidade daquele casal de malvados. E, subjugada pelo peso das recordações, ela desabafou

— Sim, eram mesmo dois patifes! Mas que podem eles fazer agora?

— Que podem fazer? — Esta pergunta foi repetida num tom de voz tão alto que Miles e Flora, apesar de algo afastados de nós, estacaram e encararam-nos, pensativos. — Não fazem já muito? — retorqui, num tom bastante mais baixo, quando os garotos, depois de nos sorrirem e atirarem beijos com as pontas dos dedos, voltaram a mergulhar no seu pequeno teatro. Por fim, respondi: — Podem destrui-los! — Ao ouvir isto, a minha companheira voltou-se para me fitar; mas o mudo apelo que me lançou obrigou-me a ser mais explícita. — Ainda não sabem muito bem como, mas estão a esforçar-se por isso. São sempre vistos de longe... E em lugares estranhos e altos, no cimo das torres, no telhado das casas, no lado de fora das janelas, na margem mais afastada do lago. Contudo, de ambas as partes se nota a existência de uma enorme vontade de encurtar distancias, de ultrapassar os obstáculos. E o sucesso dos tentadores é apenas uma questão de tempo. Tudo o que precisam fazer é insistir nas situações de perigo, mais nada.





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