Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 103 / 258

Para o mergulho são auxiliados por uma pesada pedra que seguram entre os pés e que está presa ao barco por uma corda.

- Até hoje ainda usam esse método primitivo?

- Ainda - informou-me o capitão - embora essas ostreiras pertençam ao povo mais engenhoso do globo, os ingleses, que as adquiriram pelo Tratado de Amiens, em 1802.

- Um escafandro semelhante aos que o senhor tem seria muito útil nessas operações - comentei, para ver a reação dele.

- De fato seriam. Esses pobres pescadores não podem permanecer por muito tempo debaixo da água. O inglês Percival, que esteve por aqui, falou de um indígena que conseguia ficar cinco minutos sem vir à superfície, mas isso é pouco crível. Sei de alguns pescadores que aguentam até cinquenta e sete segundos. Outros, mais hábeis, ficam submersos até oitenta e sete segundos. Mas são raros e quando voltam a bordo põem sangue pelo nariz e pelos ouvidos. Penso que o tempo médio que eles podem aguentar é de trinta segundos, durante os quais se apressam em recolher para dentro de um saco todas as ostras perlíferas que vão arrancando. Geralmente esses pescadores morrem novos. A vista vai-lhes enfraquecendo, aparecem-lhes úlceras nos olhos e feridas no corpo. Muitas vezes são fulminados por apoplexia no fundo do mar, ou devorados por tubarões.

- É na verdade uma triste profissão que apenas serve para satisfação de caprichos - externei meu ponto de vista. - Mas diga-me, capitão, que quantidade de ostras pode pescar um barco em um dia de trabalho com os homens que o senhor mencionou?

- Cerca de quarenta e cinco mil. Dizem que em 1814 o governo inglês, com esses pescadores a trabalharem por sua conta durante vinte dias, arrecadou setenta e seis milhões de ostras.





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