- E esses homens são bem pagos?
- Não. Recebem uma remuneração insignificante.
- Essa exploração do homem pelo homem é odiosa, Capitão Nemo.
Ele não quis comentar a minha observação.
- Pois bem, professor, visitaremos amanhã o banco de ostras de Manaar. Pode acontecer que encontremos algum pescador mais apressado e o senhor poderá vê-lo em atividade.
- Combinado, capitão.
- A propósito, Sr. Aronnax, tem medo de tubarões?
- Confesso que ainda não estou muito familiarizado com esse gênero de peixes - falei, depois de uma breve reflexão.
- Nós já estamos habituados a eles - disse o capitão - e com o tempo o senhor também se acostumará. De qualquer modo iremos armados e pelo caminho poderemos talvez caçar um desses exemplares. É uma caçada bem interessante.
Dito isso, o Capitão Nemo saiu do salão.
Ficando sozinho, comecei a pensar. Se alguém fosse convidado para caçar ursos nas montanhas da Suíça, diria: “Muito bem! Amanhã vou caçar ursos”; se se convidasse um amigo para ir caçar leões nas planícies do Atlas ou tigres nas selvas indianas, ele certamente diria: “Ah! Até que enfim parece que vou caçar tigres ou leões”; mas se uma pessoa fosse convidada para caçar tubarões, no seu elemento natural, tenho certeza de que ela pediria algum tempo para refletir antes de aceitar o convite.
No meu caso particular, passei a mão pela fronte onde encontrei algumas gotas de suor frio.
“Tenho de refletir enquanto é tempo”, monologuei. “Caçar lontras nas florestas submarinas, como fizemos na ilha Crespo, ainda vá. Mas andar pelo fundo dos mares quando se tem quase a certeza de encontrar esqualos, já é outra coisa!