Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 3 / 258

Não há dúvida de que se não fosse a qualidade superior do seu casco, o “Moravian”, que foi arrombado com o choque, teria sido engolido pelas águas com os seus duzentos e trinta e sete passageiros.

A 13 de abril de 1867, com o mar calmo e o vento propício, o “Escócia” encontrava-se a 15º 12' de longitude e 45° 37' de latitude. As quatro horas e dezassete minutos da tarde, durante o lanche dos passageiros, sentiu-se um choque ligeiro no casco do navio, de lado e um pouco atrás da roda de bombordo. O “Escócia” não fora abalroado, mas tinha sido tocado por um grande objeto cortante. A pancada fora tão leve que ninguém a bordo se preocuparia se não fossem os gritos dos marinheiros do porão, que subiram ao convés gritando que o navio estava fazendo água.

A princípio os passageiros ficaram muito assustados, mas o Capitão Anderson apressou-se a tranquilizá-los, explicando-lhes que o perigo não podia ser iminente. O “Escócia” estava preparado para enfrentar um rombo no casco sem grande perigo de se afundar. Continuou navegando e chegou ao porto de Liverpool com três dias de atraso. Os engenheiros verificaram que a dois metros e meio abaixo da linha de flutuação, abria-se um rombo em forma de triângulo isósceles. O corte na chapa metálica era perfeitamente nítido e não teria sido mais bem executado por um instrumento apropriado para tal fim.

Esse acontecimento veio exaltar de novo a opinião pública. Na verdade, a partir desses incidentes, todos os desastres marítimos cujas causas se desconheciam passaram a ser atribuídos ao monstro. As comunicações entre os diversos continentes tornaram-se cada vez mais perigosas, levando o público a exigir categoricamente que os mares fossem libertados a todo custo desse terrível cetáceo.





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