O primeiro risco que Dantès corria era que o carcereiro, quando lhe fosse levar a refeição das sete horas, descobrisse a substituição operada. Felizmente, quer por misantropia, quer por cansaço, Dantès recebera muitas vezes o carcereiro deitado, e quando assim acontecia, habitualmente o homem depositava o pão e a sopa em cima da mesa e retirava-se sem lhe falar.
Mas desta vez o carcereiro poderia renunciar aos seus hábitos de mutismo, falar a Dantès e, vendo que este lhe não respondia, aproximar-se da cama e descobrir tudo.
Quando as sete horas da noite se aproximaram, as angústias de Dantès começaram realmente. Com uma das mãos apoiada no coração procurava conter-lhe as pulsações, enquanto com a outra enxugava o suor da testa, que lhe escorria ao longo das têmporas. De vez em quando, sentia arrepios percorrerem-lhe todo o corpo e apertarem-lhe o coração como num torno gelado.
Julgava então que ia morrer. Mas as horas passaram sem trazer qualquer movimento ao castelo e Dantès deduziu que escapara ao primeiro perigo. Era um bom augúrio. Finalmente, por volta da hora fixada pelo governador ouviram-se passos na escada e Edmond compreendeu que chegara o momento. Apelou para toda a sua coragem e conteve a respiração. Seria óptimo se conseguisse reter ao mesmo tempo as pulsações precipitadas das suas artérias.
Pararam à porta. Os passos eram de duas pessoas. Dantès adivinhou que eram os dois coveiros que o vinham buscar, e a dedução converteu-se em certeza quando ouviu o barulho que fazia a pousar a padiola.
A porta abriu-se e uma luz velada chegou aos olhos de Dantès.
Através da tela que o cobria viu duas sombras aproximarem-se da cama. Havia uma terceira à porta, de lanterna na mão. Cada um dos dois homens que se tinham aproximado da cama agarrou o saco por uma extremidade.
- Isto é que ele é ainda pesado para um velhote tão magro! - observou um deles, levantando-o pela cabeça.
- Dizem que cada ano acrescenta meia libra ao peso dos ossos comentou o outro, agarrando-o pelos pés.
- Já deste o nó? - perguntou o primeiro.
- Muito estúpido seria eu se nos carregasse com um peso inútil -respondeu o segundo. - Dá-lo-ei lá em baixo.
- Tens razão. Vamos lá então.
«A que nó se referiria ele?», perguntou-se Dantès.
Transportaram o pretenso morto da cama para a padiola. Edmond retesava-se para desempenhar melhor o seu papel de defunto.
Pousaram-no na padiola, e o cortejo, iluminado pelo homem da lanterna, que ia à frente, subiu a escada.
De súbito, o ar fresco e cortante da noite inundou-o. Dantès reconheceu o mistral. Foi uma sensação cheia ao mesmo tempo de delícias e angústias.