- Estou às suas ordens, senhor - disse o abade, com um acento italiano dos mais pronunciados.
- A missão de que me encarregaram, senhor - começou o visitante, vincando cada uma das palavras, como se tivessem dificuldade em sair -, é uma missão de confiança para quem a desempenha e para a pessoa junto da qual a desempenha.
O abade inclinou-se.
- Sim - prosseguiu o desconhecido -, a sua probidade, Sr. Abade, é tão conhecida do Sr. Prefeito da Polícia que ele deseja saber do senhor, como magistrado, uma coisa que interessa à segurança pública em nome da qual o venho procurar. Esperamos, portanto, Sr. Abade, que não haja nem laços de amizade nem consideração humana que possam levá-lo a ocultar a verdade à justiça.
- Conquanto, senhor, que as coisas que deseja saber não briguem em nada com os escrúpulos da minha consciência. Sou padre, senhor, e os segredos da confissão, por exemplo, devem ficar entre mim e a justiça de Deus, e não entre mim e a justiça humana.
- Oh, esteja tranquilo, Sr. Abade! - disse o desconhecido. - Seja em que circunstâncias for, respeitaremos a sua consciência.
Ao ouvir estas palavras, o abade carregou do seu lado no quebra-luz, o qual se levantou do lado oposto, de forma que, embora iluminasse em pleno rosto o desconhecido, deixava a cara do abade na sombra.
- Perdão, Sr. Abade - disse o enviado do Sr. Prefeito da Polícia -, mas essa luz fere-me horrivelmente a vista.
O abade baixou o cartão verde.
- Agora, senhor, escuto-o. Fale.
- Vou direito ao assunto. Conhece o Sr. Conde de Monte-Cristo?
- Refere-se ao Sr. Zaccone, presumo?...
-Zaccone! ... Não se chama portanto Monte-Cristo?
- Monte-Cristo é o nome de uma terra, ou antes, de um rochedo, e não um nome de família.
- Pois seja. Não discutamos as palavras, e visto o Sr. de Monte-Cristo e Sr. Zaccone serem o mesmo homem...
- Absolutamente o mesmo.
- Falemos do Sr. Zaccone.
- Pois sim.
- Conhece-o?
- Perfeitamente.
- Quem é?
- O filho de um rico armador de Malta.
- Sim, bem sei, é o que se diz. Mas, como o senhor compreende, a Polícia não se pode contentar com um diz-se...
- No entanto - prosseguiu o abade, com um sorriso afabilíssimo -, quando esse diz-se é a verdade, toda a gente se deve contentar com ele e é necessário que a Polícia proceda como toda a gente.
- Mas o senhor tem a certeza do que diz?
- Como? Se tenho a certeza?!
- Note, senhor, que não duvido de forma alguma da sua boa-fé. Limito-me a perguntar: tem a certeza?
- Ouça, eu conheci o Sr. Zaccone pai.