O representante do Porto expendeu a quarta edição piorada das suas ideias sobre o dever e justiça com que o teatro de S. João reclamava subsídio, e sentou-se.
— Tem a palavra o Sr. Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda — disse o presidente.
O morgado da Agra escorvou-se de rapé, trombeteou a pitada, e orou deste teor:
— Sr. presidente. Em Grécia e Roma as festas anuais eram solenizadas com espectáculos. Os cidadãos timbravam em se despenderem aporfiadamente para o maior realce das representações teatrais. Na Grécia, o arconte epónimo, a cargo de quem o Estado delegava as despesas das representações, esmava o dispêndio de cada uma em dois talentos, 3250$000 réis, pouco mais ou menos da nossa moeda. Este dispêndio faziam-no espontaneamente os ricos; e, se era o tesouro nacional que adiantava as despesas, a concorrência convidava pelo preço diminutíssimo do theorikon ou entrada, que correspondia ao vintém na nossa moeda. E de Péricles em diante, Sr. presidente, tomou o Estado à sua conta o pagamento das entradas dos pobres. Entre os Romanos, eram os poderosos, como Lépido e Pompeu, e, ao adiante os imperadores, que sustentavam do seu bolsinho as representações teatrais. Os impérios opulentos, Sr. presidente, os impérios que dirigiam a substância do universo, os impérios que edificavam teatros para trinta mil espectadores, não impunham aos povos a obrigação de se privarem do necessário para abrilhantarem Atenas ou Roma, com luxuosas superfluidades.