A Queda de um Anjo - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 30 / 207

Peço à Câmara que repare nos três versos que completam a quadra e a profecia:

Os instrumentos músicos deixando

Nos estranhos salgueiros penduramos,

Hic, Sr. presidente:

Quando aos cantares que já em ti cantamos

Nos estavam imigos incitando.

Nos cantares, Sr. Presidente, é que bate o ponto do meu discurso. (Hilaridade. Sussurro nas galerias. O presidente tange a campainha.)

O orador: — Sr. presidente! que me não queiram persuadir de que estou em casa de orates! Que é isto? Que bailar de ébrios é este em volta de Portugal moribundo? Como podem rir-se os enviados do povo, quando um enviado do povo exclama: Não tireis à Nação o que ela vos não pode dar, governos! Não espremais o úbere da vaca faminta, que ordenhareis sangue! Não queirais converter os clamores do povo em cantorias de teatro! Não vades pedir ao lavrador quebrado de trabalho os ratinhados cobres das suas economias para regalos da capital, enquanto ele se priva do apresigo de uma sardinha, porque não tem uma pojeia com que comprá-la.

E vinte contos e trinta contos de subsídios que moralidade fomentam, que lâmpadas acendem nos altares da civilização? Eu peço à Câmara que leia atentamente o discurso teológico do padre Inácio de Camargo, lente no real colégio de Salamanca, acerca dos teatros. Não menos fervorosamente peço a V. Exa. e às Câmaras que leiam as miríficas páginas do nosso oratoniano Manuel Bernardes sobre representações teatrais.





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