Vivem atualmente a condessa de Gondar, o marido, que ficou sempre Francisco José da Costa, seis filhos, o mais velho dos quais, aquele Antoninho, nascido nas Boticas, é o mais requintado aristocrata do Minho, e aturde os seus condiscípulos da Universidade contando-lhes legendas do Paço de Gondar, de que ele vem a ser o vigésimo senhor. A legenda que ele ignora é a de sua avó D. Maria d’Antas.
Ângela tem hoje quarenta e nove anos. As rugas não ousam ainda combater a mocidade renascida naquele coração. Cinco meninas formosas que a seguem à missa passam pelo desgosto de ouvir dizer:
- A mãe é melhor que as filhas.
Quem ainda vive, a competir com os velhos robles do Paço de Gondar, é João Pedro, que pediu a sua reforma, e está feitor nominal do condado.
Na véspera de Natal vem sempre a Ponte consoar com “a sua gente”, diz ele. E depois que as rabanadas e o Porto lhe aguçam a memória, costuma dizer todos os anos, a sós com Ângela:
- Ó senhora condessa!... mal diria eu quando a vi casada com aquele Hemorragilde!...
Ângela, com quanto já conheça, de antemão, o gracejo obrigado da noite de Natal, aplaude sempre com uma risada e dois piparotes na orelhas musgosas do macróbio.