Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 27: CAPÍTULO XV

Página 152
Eu no entanto olhava a condessa.

Estava originalmente linda. Tinha o vestido levemente decotado sobre o seio. E o luar dava-lhe aquele limbo poético que todas as claridades misteriosas, ou venham de astros mortos ou de luzes desmaiadas, dão às figuras louras.

Havia um piano no terraço; a condessa sentou-se, e sob os seus dedos o teclado de marfim, chorou um momento. O silêncio, o infinito da luz, a atitude contemplativa das coisas, o murmuroso chorar da água nas bacias de mármore, tudo nos tinha insensivelmente lançado num estado de suave e vago romantismo…

De repente a condessa elevou a voz e cantou. Era a balada do Rei de Tule.

Alguém tinha traduzido aquela balada em rimas populares. E era assim que a condessa gostava de a dizer, em lugar de usar as palavras italianas com a sua banalidade de libreto.

Houve outrora um rei de tule

A quem, em doce legado,

Deixou a amante ao morrer

Um copo de ouro lavrado.

Eu ficara junto do piano, fumando. Ritmel, de pé, encostado à balaustrada, enlevado no penetrante encanto daquela canção, olhava a água do tanque, onde tremia a claridade da lua, conservando a taça na mão.

Os dedos da condessa volteavam no teclado de marfim; e a sua voz continuava, triste como a própria balada:

Sempre o rei achava nele

Um sabor da antiga magoa,

E se por ele bebia

Tinha os olhos rasos de água.

- Não cante mais, disse Ritmel de repente, voltando-se.

Á luz da lua eu vi-lhe os olhos húmidos como os do rei da canção, e na sua mão tremia a pequena chávena dourada.

Ela voltou para Ritmel um longo olhar triste, e a sua voz prosseguiu, vibrando mais saudosa no silêncio:

Na alta esplanada normanda

Batida da fria onda

Reúne os seus irmãos de armas

A uma távola-redonda…

Parou com as mãos esquecidas sobre o teclado:

- Foi talvez como numa noite destas, disse ela.

<< Página Anterior

pág. 152 (Capítulo 27)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 152

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240