Como o soube?
E apoiando-se no braço da senhora que a acompanhava, segurou-se nela com um movimento convulso de pavor, ergueu o rosto para mim e fitou-me, trémula, suplicante, com os olhos alucinados e lacrimosos.
- Que quer? Diga! - acrescentou ela. Vem prender-me? aqui me tem.
Leve-me.
E tendo dito isto, voltou-se sucessivamente para todos os lados, olhando a rua com a mais exaltada expressão da confusão, da vergonha e do medo. Era a angústia personificada pela maneira mais viva e mais lancinante. Eu sentia o coração cheio de lástima e de piedade.
- Perdão, - disse-lhe, - sossegue, por quem é! Eu nada sei. Não venho prende-la, nem venho interroga-la. Não sou um juiz, nem um espião, nem um carrasco. É esta a terceira vez que a vejo na minha vida. A primeira foi nesta mesma rua há cerca de um mês, no momento em que um cocheiro lhe pedia o aluguer de uma carruagem. A segunda vez foi de passagem no Rocio há quinze dias. Sou um amigo seu desconhecido, obscuro, anonimo. Supunha-a no apogeu da fortuna e da felicidade. Tive-lhe inveja e odio. Encontro-a, ao que parece, à beira de um abismo e não acho na minha alma doente e magoada senão enternecimento e dedicação! é, então, desgraçada como os outros… coitadinha! coitadinha!
E a minha dor era profunda e sincera, a minha compaixão ilimitada.
- Não sei, disse ela, estou tão perturbada que não o compreendo bem; estou tão aflita que não o reconheço bem, entrelembro-me apenas… Mas parece-me generoso e compadecido… Ah! eu não posso ter-me em pé!
Dei-lhe o braço, que ela aceitou, e ficou um momento amparada em mim e na pessoa que a acompanhava, imóvel, com a cabeça reclinada para traz e a boca aberta, bebendo ar a longos sorvos.
- Vamos! disse ela depois de uma pausa.