Um dos mascarados mostrou-me um copo que estava ao pé da chaise-longue sobre uma cadeira de estofo.
- Não sei, disse ele, talvez aquilo.
O que havia no copo era evidentemente ópio.
- Este homem está morto, disse eu.
- Morto! repetiu um deles, tremendo.
Ergui as pálpebras do cadáver, os olhos tinham uma dilatação fixa, horrível.
Eu fitei-os então um por um e disse-lhes serenamente:
- Ignoro o motivo porque vim aqui; como médico de um doente sou inútil; como testemunha posso ser perigoso.
Um dos mascarados veio para mim e com a voz insinuante, e grave:
- Escute, crê na sua consciência que esse homem esteja morto?
- Decerto.
- E qual pensa que fosse a causa da morte?
- O ópio; mas creio que devem sabe-lo melhor do que eu os que andam mascarados surpreendendo gente pela estrada de Sintra.
Eu estava irritado, queria provocar algum desenlace definitivo que cortasse os embaraços da minha situação.
- Perdão, disse um, e há que tempo supõe que esse homem esteja morto?
Não respondi, pus o chapéu na cabeça e comecei a calçar as luvas. F… junto da janela batia o pé impaciente. Houve um silêncio.
Aquele quarto pesado de estofos, o cadáver estendido com reflexos lívidos na face, os vultos mascarados, o sossego lúgubre do lugar, as luzes claras, tudo dava àquele momento um aspeto profundamente sinistro.
- Meus senhores, disse então lentamente um dos mascarados, o mais alto, o que tinha guiado a carruagem - compreendem perfeitamente, que se nós tivéssemos morto este homem sabíamos bem que um médico era inútil, e uma testemunha importuna! Desconfiávamos, é claro, que estava sob a ação de um narcótico, mas queríamos adquirir a certeza da morte. Por isso os trouxemos. A respeito do crime estamos tão ignorantes como os senhores.