E os direitos do amor não os abdico.
Pois quê! Por causa da outra! Hei de dar tamanha consideração às lágrimas que choram dois olhos alheios, que nunca vi, que estão a duzentas léguas de distância e não hei de apiedar-me das minhas lágrimas, que escorrem aqui na minha face, e que eu aparo na tremura das minhas mãos!
«És casada» dizem-me. O quê! Porque perdi mais, devo ser atendida menos! Eu, que vivo quase fora do mundo, sem estar ligada a nenhuma destas coisas superiores que amparam a vida, suspensa sobre a morte por um leve fio, por este amor único, é por isso que devo ir com as minhas mãos quebrar esse fio, quebrar esse amor!
Há algum direito humano que exija isto de mim? há alguma piedade que o veja friamente? há alguma consciência que o justifique? Se há, essa consciência poderia ensinar a serem duros os rochedos do mar!
Mas, meu primo, tudo isto é aqui, neste papel em que lhe escrevo. Porque na realidade eu não podia lutar com ela! Ela era a miss, a que havia de ser esposa e mãe, - vencia tudo! Elevava-se sobre as velhas afeições, sobre os velhos erros, como a imagem da virgem sobre o globo feito de barro e de lama, onde se enrosca a serpente.
Nem tentei lutar!
E foi por esse tempo que recebi uma carta em que ele me dizia: Parto para Portugal.
Que vinha fazer? O que era? Vinha despedir-se de mim? Vinha ver as minhas agonias? Vinha consolar-me? Vinha convencer-me? Vinha de novo dar-se cativo ao meu amor? Vinha. Nem ele mesmo sabia mais nada!