dia os filhos, que fossem a continuação do seu ser e a sua imortalidade? Podia eu priva-lo em nome do meu ideal de ter na velhice aquela doce e branca companheira, sob cujo olhar pacifico, o homem justo espera, sossegado, o nobre momento da morte?
E era só isto?… Pode um espirito sincero acreditar na duração destes amores exaltados, feitos de sensibilidades e de martírios, que não têm o dever por base, e têm a traição por origem? E por dois ou três anos mais que esta aventura continuaria, tinha eu o direito de ir quebrar o destino da outra, dela, pobre rapariga, que o amava, que edificava a sua vida sobre o coração dele, que se preparava para ser no lar, e para sempre, a presença da graça e a consciência viva? Não: isto não podia ser.
Mas por outro lado, era justo que eu, tendo sacrificado por ele tudo, desde o pudor íntimo até à honra social, fosse agora arremessada como uma luva velha?
Eu que tinha sido tudo quando se tratava da sua imaginação, não seria nada agora porque se tratava do seu interesse? Não me exilara eu por ele, do paraíso domestico? Por ele não renunciara as alegrias pacíficas da vida, e a sublime esperança de uma morte digna? Como eu tinha sacrificado por ele a honra de um homem, não podia ele sacrificar por mim as esperanças romanescas de uma criança? Era justo ter-me trazido enganada, envolvida, como num arminho, nas aparências do amor, ter-me conduzido com os olhos vendados, atraída, suspensa do ritmo dos seus passos, a um lugar perigoso, a uma situação intolerável, e chegando aí dizer-me: «Adeus agora! eu vou para a felicidade. Tu fica; mas cuidado, que para traz não podes voltar; e se deres um passo para diante, vais abismar-te na infâmia!».
Não, isto não deve ser: o amor não é uma criação literária, é um fato da natureza: como tal produz direitos, origina deveres.