muralha, que media a altura de quatro andares, era da cor da estamenha, sombria e triste, manchada de grandes nodoas esverdeadas e negras como o capuz de um ermita, uma espécie de lençol em que se enrolasse para o enterro uma casa morta. Havia um ponto em que esta facha se recolhia, formando o pátio por onde se entrava para o convento, cuja porta, mordida pelos anos, chapeada e cravejada com enormes pregos, se via no fundo através dos grossos varões de uma grade de ferro. Pelas juntas desarticuladas das grandes pedras que lajeavam o pátio, rompiam moitas de ortigas, com a rudeza de cabelos hirsutos, saídos pelos rasgões de um barrete. Do meio do largo surgia o bocal da um poço, cujo balde seguro por uma corda de esparto pendia de uma estaca. No chão estavam estendidos os andrajos das pobres da vizinhança, que vinham lava-los ao pé do poço, e nesse recinto os deixavam a enxugar juntamente com as enxergas dilaceradas e apodrecidas dos berços dos seus pequenos. A um canto do pátio pendia do muro uma corrente de ferro com que se tangia uma sineta interior. A este sinal via-se numa abertura da alvenaria rodar no muro um cilindro de madeira, que por um movimento vagaroso metia para dentro a sua superfície côncava e mostrava para fora o seu interior convexo. Parecia quando isto se ouvia que o taciturno monstro entreabria a pálpebra, deixando ver uma orbita sem olho. Este aparelho chama-se a roda. A condessa pronunciou aí uma palavra, a que respondeu de dentro uma espécie de gemido, e foi esperar em seguida para junto da porta negra ao fundo do pátio.
Quando a porta se abriu e o primo da condessa lhe apertou pela última vez a mão, as lágrimas, que até aí conseguira dificultosamente reprimir, saltaram-lhe dos olhos.
- Acha horrível, não é verdade? perguntou-lhe ela com um sorriso em que transparecia a estranha luz da resignação das mártires antigas.