A condessa subiu para o seu quarto. Eu entrei na sala, com o conde. Oficiais ingleses que vinham de Southampton, e que iam para a estação de Malta, tinham desembarcado, e ceavam.
Nós tínhamo-nos sentado, bebendo cerveja, quando tive ocasião de aproximar de um dos oficiais ingleses que estava próximo de mim o frasco de mostarda. O frasco caiu, sujou-me, ele sorriu com polidez, eu ri alegremente, conversámos, e ao fim da noite passeávamos ambos pelo braço, na esplanada que ficava defronte das janelas do hotel e que está sobre o mar. Havia um amplo e calado luar que espiritualizava a decoração admirável das montanhas, a vasta água imóvel.
Eu tinha simpatizado com aquele oficial, já pelo seu perfil altivo e delicado, já pela feição original do seu pensamento, já por uma gravidade triste que havia na sua atitude. Era novo, capitão de artilheria, e batera-se na India. Era loiro e branco; mas o sol do Indostão tinha amadurecido aquela carnação fresca e clara, aprofundado a luz dos olhos, e dado aos cabelos uma cor fulva e ardente.
Passeávamos, conversando na esplanada, quando, repentinamente, abriu-se uma janela, e uma mulher com um penteador branco, apoiou-se levemente na varanda, e ficou olhando o horizonte luminoso, a melancolia da água. Era a condessa.
O luar envolvia-a, empalidecia-lhe o rosto, adelgaçava-lhe o corpo, dava à sua forma toda a espiritualização de uma figura de antiga legenda: o seu penteador caia largamente ao redor dela, em grandes pregas quebradas.
- Que linda! disse o oficial parando, com um olhar admirado, e profundo.
Quem será?
- Somos um pouco primos, disse eu rindo. É casada. É a condessa de W. Parte para Malta amanhã no paquete. A bordo levar-lhe-ei o meu amigo para a entreter contando-lhe histórias da India.