— Mas nós nem sequer sabemos porquê! — exclamou ela, peremptório. — Por ter-se comportado de forma perversa, claro! Que outra razão poderia existir quando estamos perante uma pessoa tão inteligente, bonita e perfeita?! Será que ele é estúpido? Será que é desmazelado? Será que é fraco? Ou será que possui um mau carácter? Estamos perante uma criatura estranha, logo, a razão para o terem dispensado só pode estar relacionada com isto. E será precisamente por ai que vamos acabar com esta situação. Afinal — concluí — a culpa é toda do tio. Se ele deixou andar essa gente por aqui...
— Ele nunca chegou a conhecê-los bem. A culpa é minha. — E, de repente, a mulher ficou branca como a cal da parede.
— Bom, posso garantir-lhe que a senhora não vai sofrer — repliquei.
— Mas as crianças é que não devem sofrer! — ripostou ela, enfática.
Calei-me. Trocámos um olhar.
— Nesse caso, que deverei contar-lhe?
— A menina não precisa de contar-lhe nada. Eu mesma me encarregarei de o fazer.
Ponderei a hipótese.
— Isso quer dizer que vai mandar-lhe uma carta. . . ? — Foi então que me lembrei de que aquela mulher não sabia escrever. — Como é que vocês comunicam?
— Entro em contacto com o meirinho. É ele quem escreve. — E gostaria de vê-lo passar a nossa história para o papel?
A minha pergunta revelou-se demasiado sarcástico, o que acabou por desarmá-la. Os seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas.
— Ah, menina, escreva-lhe, então!
— Sim esta mesma noite — respondi. Depois disso, separamo-nos.