— Claro que deve voltar para a escola — disse eu passado algum tempo —, se é isso que o preocupa. Mas não para aquela em que estava. Temos de encontrar outra... uma melhor. De qualquer modo, aproveito para esclarecer uma coisa. Como é que eu podia saber que este problema o incomodava se nunca me tinha falado sobre ele? Nunca! — Recortando-se contra o esplendor branco da almofada, o seu rostozinho atento assemelhou-se durante breves instantes ao de uma criança internada num qualquer hospital infantil. E ao aperceber-me dessa semelhança, compreendi que de bom grado daria tudo no mundo para ser a enfermeira ou a irmã de caridade capaz de ajudá-lo a curar-se. Bom, talvez ainda fosse a tempo de o fazer! — Sabe que nunca me disse uma palavra que fosse sobre a sua escola? A antiga, claro. Que nunca se referiu a ela?
O garoto pareceu meditar sobre o que acabara de ouvir, e depois esboçou o sorriso encantador de sempre. De qualquer forma, era óbvio que queria apenas ganhar tempo.
— A sério? — No fundo, não me competia a mim ajudá-lo, mas sim à coisa que eu vira!
Foi alguma coisa no seu tom de voz e no modo como me olhava que fez que o meu coração se visse comprimido pelo espasmo mais doloroso que jamais conhecera. Era comovente ver como o seu pequeno cérebro se debatia para continuar a representar, sob o estranho feitiço que dele se apoderara, um papel de inocência e consistência.
— Não, nunca... Desde que chegou. Nunca me disse uma só palavra a respeito dos seus professores, dos seus companheiros, nem mesmo a respeito das aventuras que por certo ai viveu. Nunca, pequeno Miles, nunca, escutei uma só palavra que fosse a respeito do que lhe aconteceu na escola. Assim, já pode fazer uma ideia até que ponto me encontro as escuras. Até esta manhã, não me recordo que alguma vez tenha aludido à sua vida passada. Era como se não tivesse qualquer problema em aceitar o momento presente. — Não deixava de ser extraordinário como a minha absoluta convicção da sua secreta precocidade, ou o que quer que se possa chamar ao veneno de qualquer influência maléfica que nem me atrevia a nomear, o fazia parecer tão acessível como uma pessoa mais velha, o impunha quase como alguém intelectualmente meu igual. — Pensei que era do seu agrado que as coisas continuassem como estavam.
