Quanto a Mrs. Grose, era-lhe impossível ocultar o prazer que sentia ao notar o meu encanto quando, à hora do jantar, me sentei a uma mesa onde brilhavam quatro velas altas, e, à minha frente, na sua cadeira alta e de babeiro, a garotinha me olhava por entre o pão e o leite. Como seria de esperar, e visto estarmos na presença de Flora, alguns assuntos tinham forçosamente de ser abordados de forma alusiva, ao mesmo tempo que íamos trocando olhares onde o espanto se aliava à satisfação.
— E quanto ao rapazinho... é parecido com ela? Será que também ele é assim tão notável?
Já havíamos combinado que, em caso algum, deveríamos elogiar uma criança de um modo que pudesse ser considerado demasiado óbvio.
— Oh, sim, menina, bastante notável! Se já ficou com uma impressão tão boa da irmã... — E a mulher interrompeu a frase e ali se deixou ficar, um prato na mão, os olhos cravados na nossa companheira, que, por seu turno, nos ia examinando com os seus olhos calmos e celestiais, imperturbáveis.
— Sim...?
— Por certo que o pequeno senhor a vai arrebatar!
— Bom, creio que foi para isso que aqui vim parar... para ser arrebatada! De qualquer modo, receio bem — e aqui fui incapaz de resistir ao impulso que me levou a falar — ser uma daquelas pessoas que se deixam arrebatar com facilidade. Foi o que me aconteceu em Londres.
E como se ainda estivesse a ver o rosto largo de Mrs. Grose ao ouvir-me pronunciar aquelas palavras.