Calafrio - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 157 / 164

Mas sentia-me invadida por uma tal dose de coragem que fui obrigada a moderar um pouco os meus ímpetos. E, durante aqueles instantes, o rosto fantasmagórico de Peter Quint continuou preso ao vidro, como se quisesse seguir o desenrolar dos acontecimentos. Foi a minha confiança pessoal e a certeza de que Miles ignorava a presença à janela que me tornou possível prosseguir.

— E por que razão a tirou?

— Para ver o que dizia a meu respeito.

— Ou seja, abriu a carta?

— Sim, abri.

Depois de o afastar um pouco de mim, olhei-o nos olhos e, ao compreender não existir neles o mais pequeno sinal de troça, senti que todos os mal-entendidos entre nós existentes se haviam desvanecido. O mais prodigioso era o facto de ele estar agora isolado daquelas criaturas, incapaz de comunicar com elas. O rapaz sentia que havia ali alguma coisa, mas não sabia o quê. Pior ainda não fazia a mínima ideia de que eu tinha consciência do que se estava a passar. E que importância poderia isto ter quando, ao olhar de novo para a janela, vi que o ar voltara a estar límpido e que, por via dos meus méritos, a influência malévola se desvanecera? Não havia ali nada. Estava agora certa de ter ganho a guerra e que pouco faltava para saber toda a verdade.

— E não descobriu nada, claro! — Já nem me dava sequer ao trabalho de disfarçar a satisfação que sentia.

Ele brindou-me com um aceno de cabeça, triste e pensativo.





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