— Aquilo que penso ter dito às vezes. Para que tenham mandado uma carta para casa!
Sou incapaz de explicar o estranho efeito da contradição entre tal discurso e o seu orador. Sei apenas que, no momento seguinte, dei por mim a exclamar, exaltada:
— Disparates e mais disparates! — Mas logo a seguir devo ter soado de forma suficientemente dura: — Mas, afinal, que coisas eram essas?
A minha dureza era dirigida ao seu juiz e castigados, mas fez que Miles se afastasse de novo, e esse movimento fez com que eu, com um irreprimível grito, corresse para ele. É que, do outro lado do vidro, como que para impedir o garoto de confessar, lá estava outra vez o responsável por todas as nossas amarguras — a face branca da danação. Senti-me desfalecer perante a possibilidade de perder tudo o que conseguira conquistar com tamanho esforço, e a brusquidão do meu movimento só conseguiu trair-me. Vi-o encarar-me como se adivinhasse o que passava, mas, com a convicção de que ele nada via, deixei-me arrastar pelo desejo de transformar os receios do garoto na prova de que ele tanto necessitava para se considerar livre.
— Chega, chega, chega! — gritei, ao mesmo tempo que puxava ainda mais o corpo de Miles contra o peito.
—Ela está aqui?—arquejou o garoto de olhos fechados ao compreender o sentido das minhas palavras. A palavra «ela» fez-me abrir a boca de espanto e, incrédula, repeti-a como num eco.
— Miss Jessel! Miss Jessel! — respondeu ele numa súbito fúria.