Calafrio - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 32 / 164

Uma vez ai, as coisas assumiram um aspecto completamente diferente. Ai, durante muitos dias, vi-me confrontada com algo estranho. Horas houve, dia após dia — ou mesmo em alguns momentos arrancados aos meus deveres quotidianos — em que me trancava no quarto para pensar em tudo o que sucedera. Tal não ficava a dever-se ao facto de me sentir mais nervosa que aquilo que me era permitido suportar, mas porque receava chegar a esse ponto; pois a verdade que eu tinha agora para examinar era, pura e simplesmente, a de que nada nem ninguém poderia dizer-me fosse o que fosse a respeito daquele estranho visitante que tantas preocupações me causara. Demorei pouco a compreender que não eram precisos nem inquéritos nem comentários mais ou menos nervosos para que uma palavra minha a este respeito se transformasse num quebra-cabeças doméstico. O choque que sofrera por certo aguçara todos os meus sentidos; ao fim de três dias de atenta observação, fiquei com a certeza absoluta de que não fora enganada por nenhum dos criados nem alvo de uma qualquer «partida». Contudo, ninguém conseguiu fornecer-me qualquer pista relativa ao que sucedera. Assim, e tendo isto em linha de conta, só podia chegar a uma conclusão: alguém tomara uma liberdade que só podia ser considerada monstruosa. Era isto que, sempre que me refugiava no quarto e fechava a porta atrás de mim, repetia quase até à exaustão. Todos nós havíamos sido alvo da curiosidade de um intruso — um viajante sem escrúpulos com uma paixão por casas antigas esgueirara-se por entre os quartos sem que ninguém desse por ele, subira ao torreão, observara a paisagem do melhor dos ângulos e partira tal como chegara: sem ser visto. E o facto de ter olhada para mim daquela maneira tão descarada apenas ficara a dever-se à sua indiscrição. O único aspecto positivo era que, afinal de contas, nunca mais o veríamos.





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