Calafrio - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 5 / 164

No dia seguinte, fiquei a saber que uma carta contendo a chave fora enviada logo de manhã para o seu apartamento de Londres. Contudo, apesar da eventual difusão deste conhecimento (ou talvez por isso mesmo), ninguém o pressionou até ao momento em que o jantar foi dado por concluído, ou seja, até àquela hora da noite mais condizente com o tipo de emoção que todos desejávamos sentir. Nesse momento, Douglas tornou-se tão comunicativo quanto podíamos desejar, e as nossas expectativas não foram geradas. E, à semelhança do que acontecera na noite anterior, foi no salão junto à lareira que a conversa teve lugar. Tínhamos a sensação de que a narrativa que Douglas prometera ler-nos necessitava de algumas palavras introdutórias para poder ser inteiramente compreendida. Convém agora dizer, de forma clara e distinta, que é esta história, feita a parar de uma transcrição do original efectuada por mim alguns anos mais tarde, o que aqui vou apresentar-vos. Antes de falecer — quando já parecia inevitável — o pobre Douglas fez questão de enviar-me o manuscrito que acabou por chegar-lhe às mãos ao fim de três dias, e que, no mesmo lugar onde tudo começara, ele se encarregou, na noite do quarto dia, de proceder à respectiva leitura. Como seria de esperar (e ainda bem que assim foi), as senhoras que haviam prometido ficar acabaram por ir-se embora, arrastadas por compromissos anteriormente assumidos, mas fizeram-no com uma curiosidade febril, já que as pistas por ele saltadas durante os dias de espera apenas haviam servido para aumentar a nossa impaciência. De qualquer forma, esta partida apenas serviu para transformar o auditório em algo mais compacto e Electivo, e para o manter reunido, preso da mesma emoção.

A primeira destas pistas revelou-nos datar a elaboração do manuscrito em causa de uma época posterior àquela em que os factos nele narrados sucederam. Deste modo, ficámos a saber que a velha amiga de Douglas, a mais jovem das filhas de um pobre pároco de aldeia, tinha vinte anos quando, no intuito de exercer as funções de preceptora, partira para Londres, cheia de excitação, para responder pessoalmente a um anúncio que a fizera entrar em contacto, por intermédio do correio, com o responsável pela publicação do mesmo. Quando a jovem aspirante ao cargo se apresentou na casa de Harley Street, um edifício enorme e imponente, verificou-se que o potencial patrão era um autêntico cavalheiro, solteiro e na força da idade, alguém com quem uma rapariga acabada de sair do seu Hampshire natal nunca antes pudera confrontar-se, excepto em sonhos ou num qual quer velho romance.





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