Aqui transcritas, estas palavras parecem inofensivas, sobretudo quando pronunciadas naquele tom doce e casual com que se dirigia a todos, mas sobretudo à preceptora, a quem parecia estar sempre a atirar rosas. No entanto, houve nelas alguma coisa que me fez parar de repente, como se uma das árvores do parque tivesse acabado: de cair à minha frente. Algo de novo se interpusera entre nós, e Miles de imediato se apercebeu de que eu o. reconhecera^j mesmo que, para me dar a entender uma coisa daquelas, não fosse sequer necessário mostrar-se mais cândido e encantador que de costume. O meu silêncio inicial deu-lhe de imediato a entender que se encontrava em vantagem. Demorei tanto a responder que ele teve tempo, mais de um minuto, para continuar, com um sorriso sugestivo mas inconclusivo:
— Sabe, minha querida, quando um rapaz está sempre com uma senhora... — Era frequente dirigir-se a mim com aquele «minha querida», e nada poderia expressar melhor o tipo de sentimentos que desejava inspirar nos meus pupilos que esta familiaridade carinhosa Tratava-se de uma fórmula com tanto de respeitador quanto de simpático.
Mas, oh, como senti naquele momento que necessitava de medir as palavras com o máximo dos cuidados! Lembro-me de que, para ganhar tempo, comecei por soltar uma gargalhada, e é como se ainda estivesse a ver a minha expressão retorcida reflectida naquele rosto de uma beleza serena
— Sobretudo quando a senhora é sempre a mesma? — inquiri.
O garoto nem corou nem pestanejou. Sim, de facto as coisas haviam mudado mesmo entre nós.
— Oh, mas Caro que é uma senhora perfeita e encantadora! De qualquer forma, sou um rapaz e estou... bem, estou a cresceu