Este caso ocorrido entre Michu e o rendeiro de Cinq-Cygne provocou uma celeuma espantosa - na circunscrição e enegreceu as tintas misteriosas que velavam Michu: nem só esta circunstância, porém, o tornou temido.
Alguns meses após a cena referida, o cidadão Marion apresentou-se em Gondreville com o cidadão Malin. Correu então que Marion ia vender as suas terras a esse homem, altamente beneficiado pelos acontecimentos políticos e que acabava de ser colocado no conselho de Estado pelo Primeiro Cônsul, em recompensa dos serviços prestados em 18 de Brumário. Os políticos da pequena cidade de Arcis perceberam então que Marion era o testa-de-ferro do cidadão Malin e não dos Senhores de Simeuse. O todo-poderoso conselheiro de Estado era a mais importante personagem de Arcis. Introduzira um dos seus amigos políticos na prefeitura de Troyes, livrara do serviço militar o filho de um dos lavradores de Gondreville, chamado Beauvisage; prestava serviços a toda a gente. Eis porque este negócio não ia, com certeza, encontrar oposição na terra, onde Malin punha e dispunha, como ainda hoje põe e dispõe. Estávamos na aurora do Império.
Aqueles que hoje em dia lêem as histórias da Revolução francesa não fazem ideia alguma dos intervalos que o pensamento público punha entre os acontecimentos próximos desse tempo. A necessidade geral de paz e de tranquilidade. a que todos aspiravam após tão violentas comoções, determinava um esquecimento completo dos Jactos anteriores, por mais graves que fossem. A história envelhecia a olhos vistos constantemente amadurecida por interesses 'novos e ardentes. Desta sorte ninguém, a não ser Michu, procurou recordar o passado daquele caso, que parecia muito simples. Marion, que outrora comprara Gondreville por seiscentos mil francos de assinados, vendera-o por um milhão de escudos; mas a única importância desembolsada por Malin fora o direito de registo.