Grévin camarada de cartório de Malin, favorecia, evidentemente, esse cambalacho, e o conselheiro de Estado recompensou-o, fazendo-o nomear notário em Arcis. Quando esta notícia chegou ao pavilhão, trazida pelo rendeiro de uma casa sita entre a floresta e o parque, à esquerda da formosa avenida, e conhecida por Grouage, Michu empalideceu e saiu; foi espiar Marion, e -acabou por encontrá-lo só numa das áleas do parque.
- É verdade que vende Gondreville?
- É, Michu, é. Terá por patrão um homem poderoso. O conselheiro de Estado é amigo do Primeiro Cônsul; é íntimo de todos os ministros, há-de protegê-lo.
- Então o senhor estava a guardar as terras para ele?
- Não vou tão longe, - respondeu Marion. - Eu não sabia, nesse tempo, onde colocar o meu dinheiro, e, para minha segurança, apliquei-o em bens nacionais; mas não me convém conservar as terras que pertenciam à casa onde meu pai...
- Foi criado-feitor - disse violentamente, Michu. - Mas o senhor não as há-de vender; eu quero-as, e posso pagar-lhas, sim, posso...
- Tu?
- Sim, eu; falo sério, em oiro de lei, oitocentos mil francos...
- Oitocentos mil francos! Onde é que tu os arranjaste? - tornou-lhe Marion.
- Isso não é da sua conta - respondeu-lhe Michu.
Depois, amaciando a voz, acrescentou, surdamente:
- Meu sogro fartou-se de salvar gente!
- Chegas tarde de mais, Michu; o negócio está fechado.
- Pois vai desfazê-lo - exclamou o administrador, pegando na mão do seu amo e apertando-a entre as suas como num estojo. - Eu sou odiado, quero ser rico e poderoso; preciso de Gondreville! Fique sabendo: não tenho amor à vida, e o senhor vai vender-me a terra; caso contrário estoiro-lhe os miolos...
- Mas, pelo menos, preciso de tempo para falar com Malin, que não é pessoa fácil.