Um Caso Tenebroso - Cap. 1: I - OS JUDAS Pág. 12 / 249

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- Dou-lhe vinte e quatro horas. Se disser uma só palavra que seja a tal respeito, corto-lhe a cabeça com a mesma facilidade com que decepo um rábano...

Marion e Malin saíram do castelo durante a noite. Marion teve medo, e pôs o conselheiro de Estado ao corrente daquele encontro, dizendo-lhe que mantivesse o administrador debaixo de olho. Era impossível, a Marion, subtrair-se a obrigação de entregar aquelas terras a quem realmente lhas pagara, e Michu não parecia homem para compreender ou sequer para admitir semelhante razão.

Aliás, este serviço prestado por Marion a Malin devia vir a ser, e foi, realmente, a origem da sua carreira política, sua e de seu irmão. Malin fez nomear, em 1806, o advogado Manon primeiro-presidente de um tribunal imperial e, logo que foram criados os recebedores gerais, tratou de obter a receita geral de Aube para o irmão do advogado. O conselheiro de Estado disse a Marion que ficasse em Paris, e preveniu o ministro da polícia, que tratou de mandar vigiar o guarda. Entretanto, para que ele não praticasse qualquer excesso, e para melhor o vigiar, talvez, Malin deixou que Michu continuasse administrador sob a férula do notário de Arcis. Desde então Michu, de dia para dia mais taciturno e metido consigo, passou a gozar da fama de homem capaz de tudo.

Malin, conselheiro de Estado, função que o Primeiro Cônsul equiparou à de ministro, e um dos redactores do código, desempenhava um alto papel em Paris, onde comprara um dos mais belos palacetes do faubourg Saint-Germain, depois de desposar a filha única de Sibuelle, rico fornecedor, de grande crédito, a quem associou, na receita geral de Aube, a Marion. Por isso não estivera em Gondreville senão uma vez; confiava, inteiramente em Grévin, a respeito de tudo que se relacionava com os seus interesses.





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