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Capítulo 1: I - OS JUDAS

Página 13
Enfim, que tinha ele a recear, ele, antigo representante de Aube de um antigo presidente do clube dos Jacobinos de Arcis?

Entretanto, a opinião, já pouco favorável a Michu nas classes inferiores, começou a ser naturalmente partilhada pela burguesia; e Marion Grévin e Malin, sem se explicarem nem se comprometerem, apontaram-no como um homem muitíssimo perigoso. Obrigados a ter olho no guarda, por ordem do ministro da polícia geral, as autoridades não desfizeram esta atoarda. Houve quem se surpreendesse por aqueles sítios ao verem Michu conservar o seu lugar, mas interpretaram essa concessão como consequência do terror que ele inspirava, Quem não compreenderá agora a profunda melancolia estampada no rosto da mulher de Michu?

Em primeiro lugar, Marta fora educada religiosamente pela mãe. Ambas boas católicas tinham passado muito por causa das opiniões e do comportamento do curtidor; Marta nunca se lembrava sem corar de ter sido conduzida em charola pelas ruas da cidade de Troyes, vestida de deusa. O pai obrigara-a a casar com Michu, cuja reputação cada vez era pior, e ela a tal ponto a temia que não se atrevia sequer a julgá-la. No entanto sentia que era amada e no fundo do seu coração havia verdadeiro afecto por aquele homem temível; nunca o vira praticar um acto que não fosse justo, nunca lhe ouvira uma palavra brutal, dirigida a ela, pelo menos; enfim, ele tudo fazia para lhe adivinhar os mínimos desejos. 'E o pobre diabo, convencido de que a sua presença desagradava à mulher, passava a vida fora de casa. Marta e Michu, desconfiados um do outro, viviam numa espécie de paz armada; como hoje se diz. Marta, que se não dava com ninguém, sentia vivamente quer a reprovação que sobre ela pesava de há sete anos para cá, filha de um corta-cabeças que era, quer a que pesava sobre o marido, tido por traidor.

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Capa do livro Um Caso Tenebroso
Páginas: 249
Página atual: 13

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - OS JUDAS 1
II – PROJECTO DE UM CRIME 16
III - AS MALÍCIAS DE MALIN 25
IV - FORA A MÁSCARA! 35
V – LAURENCE DE CINQ-CYGNE 43
VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO 54
VII - A VISITA DOMICILIARIA 67
VIII-UM RECANTO DA FLORESTA 78
IX - DESDITAS DA POLÍCIA 90
X - LAURENCE E CORENTIN 104
XI - DESFORRA DA POLÍCIA 117
XII - UM DUPLO E MESMO AMOR 128
XIII – UM BOM CONSELHO 140
XIV -AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO 151
XV - A JUSTIÇA SEGUNDO O CÓDIGO DE BRUMÁRIO DO ANO IV 159
XVI - AS DETENÇÕES 168
XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS 178
XVIII – MARTA COMPROMETIDA 190
XIX-OS DEBATES 196
XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA 212
XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR 222
XXII-DISSIPAM-SE AS TREVAS 236