Um Caso Tenebroso - Cap. 12: XII - UM DUPLO E MESMO AMOR Pág. 134 / 249

O amor, tal qual como a maternidade não sabia distinguir entre os dois irmãos. Laurence foi obrigada, para os reconhecer e não se enganar, a oferecer-lhes gravatas diferentes, uma branca, para o mais velho, outra preta, para o mais novo. Sem esta perfeita semelhança, sem esta identidade de vida que a todos iludia, uma tal situação tornar-se-ia perfeitamente impossível.

Aliás ela não é, mesmo, explicável senão pelo facto em si, um desses factos em que ninguém acredita se os não tiver visto; e, uma vez vistos, o espírito ainda se mostra mais embaraçado em explicá-los que até aí em acreditar neles.

Quando Laurence falava, a sua voz ressoava da mesma maneira nos dois corações igualmente enamorados e fiéis. Se porventura exprimira uma ideia engenhosa, divertida ou bela, o seu olhar encontrava o prazer expresso por dois olhares que a seguiam em todos os seus movimentos, lhe interpretavam os mínimos desejos e lhe sorriam sempre com novas expressões, alegres num, ternamente melancólicas no outro. Quando era a sua amada que estava em causa, os dois irmãos tinham desses admiráveis repentes afectivos, que eram perfeitamente harmónicos com a acção, os quais, no parecer do abade Goujet, atingiam o sublime.

Por isso, não poucas vezes, se porventura era preciso procurar qualquer coisa, se se tratava -de um desses pequeninos serviços que os homens tanto gostam de prestar à mulher amada, o mais velho deixava ao mais novo a satisfação de o cumprir, volvendo para a prima um olhar ao mesmo tempo terno e orgulhoso. O mais novo punha orgulho em pagar esta espécie de dívidas. Este nobre combate, num sentimento em que o homem chega, mesmo, ao ciúme feroz do animal, lançava a maior confusão nas ideias dos velhos que o observavam.

Nos olhos da condessa não raro apareciam lágrimas por mercê destes pequenos nadas.





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