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Capítulo 13: XIII – UM BOM CONSELHO

Página 141

- Não são vocês que hão-de visitar um pobre velho como eu - disse ele com finura, como quem faz uma censura aos seus jovens parentes.

- Porque virá ele a nossa casa? - perguntava o Senhor de Hauteserre aos seus botões,

O Senhor de Chargeboeuf, bonito velho de sessenta e sete anos, de calções desataviados, perninhas delgadas e meias sarapintadas, levava um crapaud, pó de arroz e asas de pombo, e apresentava-se com casaca de caça, de pano verde, com botões de oiro, que tinha alam ares de oiro também. O colete branco, com enormes bordados a oiro, deslumbrava. Esta indumentária, em moda ainda entre as pessoas idosas, dizia muito bem com a fisionomia do velho, muito parecida, aliás, com a do grande Frederico. Nunca punha na cabeça o tricórnio para não afectar a meia-lua desenhada no crânio por uma camada de pó de arroz. Apoiava-se, com a mão direita, numa bengala com castão em nariz de papagaio, segurando a bengala e o chapéu com um gesto digno de Luís XIV. Este digno ancião tirou dos ombros uma capa de seda acolchoada e enterrou-se numa poltrona, conservando em cima dos joelhos o tricórnio e a bengala, numa pose cujo segredo fora apanágio dos dissolutos da corte de Luís XV, pose esta que deixava as mãos livres para brincarem com a caixa de rapé, jóia sempre preciosa. Eis porque o marquês extraiu da algibeira do colete, que se fechava com uma aba bordada a arabescos de oiro, uma rica caixa de rapé. Enquanto preparava a pitada e oferecia rapé aos presentes com outro gesto encantador, acompanhado de olhares afectuosos, notou quão agradável era para todos a sua visita. Compreendeu então porque os jovens emigrados não tinham sido correctos com ele. Pareceu dizer de si consigo: «Quando se ama não se visitam os amigos».

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pág. 141 (Capítulo 13)

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Capa do livro Um Caso Tenebroso
Páginas: 249
Página atual: 141

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - OS JUDAS 1
II – PROJECTO DE UM CRIME 16
III - AS MALÍCIAS DE MALIN 25
IV - FORA A MÁSCARA! 35
V – LAURENCE DE CINQ-CYGNE 43
VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO 54
VII - A VISITA DOMICILIARIA 67
VIII-UM RECANTO DA FLORESTA 78
IX - DESDITAS DA POLÍCIA 90
X - LAURENCE E CORENTIN 104
XI - DESFORRA DA POLÍCIA 117
XII - UM DUPLO E MESMO AMOR 128
XIII – UM BOM CONSELHO 140
XIV -AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO 151
XV - A JUSTIÇA SEGUNDO O CÓDIGO DE BRUMÁRIO DO ANO IV 159
XVI - AS DETENÇÕES 168
XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS 178
XVIII – MARTA COMPROMETIDA 190
XIX-OS DEBATES 196
XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA 212
XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR 222
XXII-DISSIPAM-SE AS TREVAS 236