- Crianças - disse o velho marquês de Chargeboeuf, pegando nos três pela mão e afastando-se com eles para um dos relvados, nessa altura coberto de uma ligeira camada de neve -, ide-vos exaltar ao ouvirdes os conselhos de um homem prudente, mas eu tenho obrigação de o, fazer, e aqui têm o que eu no vosso caso faria: arranjaria para medianeiro um pobre velho, como quem diz eu, encarregá-lo-ia de pedir um milhão a Malin, contra uma ratificação da venda de Gondreville... Oh! ele estaria de acordo, desde que a coisa se mantivesse secreta. Vós teríeis, pela cotação actual dos fundos, cem mil libras de renda e iríeis comprar qualquer bela propriedade noutro ponto da França, deixaríeis que o Senhor de Hauteserre administrasse Cinq-Cygne, e tiraríeis à sorte qual de vós seria o marido desta bela herdeira. Mas o falar dos velhos é para o ouvido dos novos o que o falar dos novos é para o ouvido dos velhos: um ruído cujo sentido fica sem sentido.
O velho marquês acenou aos seus três parentes que não queria que lhe respondessem, e voltou para o salão, onde, durante a conversa que tinham mantido cá fora, aparecera o abade Goujet e a senhora sua irmã. A proposta de tirarem à sorte a mão da prima revoltara os dois Simeuse, e Laurence parecia como que nauseada com a acidez do remédio que o parente sugerira. Eis porque todos três passaram a ser menos amáveis para ele, embora sem deixarem de ser corteses. A afeição estava conturbada. O Senhor de Chargeboeuf, que sentia esse frio, por várias vezes relanceou àquelas três encantadoras criaturas olhares cheios de compaixão. Embora a conversa se tivesse generalizado, nem por isso deixou de insistir na necessidade de se submeterem aos acontecimentos, louvando o Senhor de Hauteserre pela persistência com que queria que os seus filhos retomassem o serviço das armas.